Mochila nas costas e la vou eu para o aeroporto novamente.
Destino: a cidade mais austral do mundo! Ushuaia??? Nao exatamente! Isso e' o que os nossos hermanos argentinos falam... A cidade mais ao sul do mundo e' Puerto Willians, na Isla Navarino, territorio de outros hermanos, os chilenos. Meu objetivo era fazer o trekking mais austral do mundo (fora da Antartica). Coisa de 4 ou 5 dias caminhando sozinho por regioes geladas de clima subantartico (aproximadamente 55 graus de latitude sul).
Bom, mas para se chegar la...
Primeiro peguei um voo ate' Punta Arenas, cidade chilena localizada no Estreito de Magalhaes.
De Punta Arenas eu tinha a ideia de pegar um voo da Aerolineas DAP, para Puerto Willians.
Como sempre, acabei me enrolando. Ou melhor, nem que eu quisesse. So havia vaga em voos para mais de 1 mes adiante. PM!!! (Puta Madre!!!!). De Punta Arenas eu tinha a ideia de pegar um voo da Aerolineas DAP, para Puerto Willians.
Bom, o negocio entao foi tomar uma cervejinha...
Esse foi um lugar que achei e onde bebi uma cerveja Austral (minha preferida) na companhia da da proprietaria do bar.
Na manha seguinte sem demora fui ate a loja da DAP para ver se havia alguma desistencia. Nao havia. Na mesma hora entrei num ciber cafe e comprei uma passagem P. Arenas - Ushuaia na intencao de conseguir um barco para atravessar o Canal de Beagle.
Passagem comprada para a tarde do dia seguinte, fui passear. Ao tentar achar meu anorak na mochila (estava um frio da porra) descobri que havia esquecido no Brasil. PUTA MADRE!!!! Devo ter esquecido ao retira-lo da mochila junto com outras coisas para (ironicamente) verificar se nao estava esquecendo nada. (prestem atencao nessas "outras coisas" que tirei da mochila tambem...). Bom, ainda bem que percebi a tempo.
Parti entao para a zona franca de P. Arenas e la comprei um anorak novo. UFA! Agora estava tudo pronto e eu poderia relaxar pela cidade, comer e/ou tomar uma cervejinha.
Na manha seguinte tomei um cafe, rodei mais um pouco e visitei a fabrida da cerveja Austral!
Fui para o aeroporto para pegar meu voo para Ushuaia. QUE VENTO! PQP! O vento pegava o aviao pela lateral enquanto ainda estavamos parados e a sensacao era de que o aviao iria tombar.
Acabamos decolando quase encostando uma das asas no chao mas conseguimos... hehehe
O voo era para ser rapido mas entao o piloto fez a volta e avisou que iria voltar para P. Arenas devido a problemas no aeroporto de destino. Entao voltamos todos com os cus nas maos para o vendaval de P. Arenas, P. Madre! Entre comentarios e olhares apreensivos, pousamos quase tocando a outra asa no chao : )
Depois de uma espera de quase uma hora dentro daquela maquina de lavar voadora, decolamos quase tocando ambas as asas no chao! Eu ja estava ficando com o estomago meio embrulhado...
Segue a tradicional foto da telinha do aviao (detalhe para a proximidade do continente antartico...)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsKVBAZqW3-GwIUgv2PHJzgmK3aMUtsADybASsIKCTtGTNi7ZT5XHgtX_8Jglf9a4yo1Par_d8PFgq4agPYZYN7NTrltnG6PRbhrtAC1zr8pF76NNSsl4J3MO0gC4Wh6Ov3hjgSo9FvcU/s400/tierra-del-fuego.gif)
Acima coloquei uma mapa que achei na internet onde da para ter nocao de onde eu estive
Aterrisamos no lindo aeroporto de Ushuaia debaixo de muito vento.
Fui logo achando um albergue e sai para comprar a passagem de barco. Uma pequena fortuna... mas... ok comprei-a-a. :o)
Passagem comprada, sai' para ver a cidade, comprar algumas coisas para a caminhada em Navarino e depois comer e tomar algo. Cidade simpatica, muitos turistas mas simpatica. Voltarei para visitar com mais calma.
Seguem algumas fotos da cidade e do Canal de Beagle:
Na manha seguinte bem cedo fui para as docas pegar meu barco. Entao atravessei minha primeira fronteira maritima. Passaporte carimbado, parti. Nao havia muita gente no barco. Uma familia e um casal de holandeses que curiosamente tambem iria fazer o circuito dos Dentes Navarinos.
Chegando em Puerto Williams passei pela fronteira e entrei novamente em territorio chileno. Sem preder tempo fiz umas compras, me registrei no escritorio dos carabineiros e parti para a caminhada. Esse registro e' recomendado para todos os que vao fazer o ci
O circuito comeca em uma rua de Puerto Williams...
Primeiro objetivo: Serro Bandeira. Uma ingrime subida ate o topo de uma montanha que possui uma bandeira chilena em seu cume. De la avistam-se P. Williams e o Canal de Beagle.
Chegando 'a bandeira pude constatar que o tempo nao estava la muito bom. E uma nuvem negra anuviava meus pensamentos como pode-se comprovar na foto abaixo.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPGmIXZgweE1bTYdQXl4rOoz2gVeUo-IlROfY-2mKqkDafgZu9DJaMangl0U1yH85frITusnvYmsq99qYmKL1NC19OqshsnwkXdGJUF6qgB-6zQJmQYaHgfEBsXwCVVJeEUBof5rQIe7k/s400/DSC_0924.JPG)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrKjgHg_hAMj69vdWbk_U7P3l7xo94Ty9lAIqhfV7WSCH-98D_KVqUN6lg-QKfPrsM24NkStcR8thLY3PPz-4efGjdiE9x36lNIWtXkFlth5Po9ECWPQeHQdk8ItyN2lIXS8_6lTfBy6E/s400/DSC_0928.JPG)
No caminho avista-se o Cordon de los Dientes.
Seguindo a linha das arvores (linha da neve) por algumas horas cheguei ao lugar de meu primeiro pernoite, a Laguna del Salto. Armei minha barraca e fiz meu primeiro jantar numa tarde linda em meu acampamento isolado no meio do nada (Detalhe: O fogareiro ficou em casa junto com o anorak e tive que cozinhar usando a benzina do MSR numa latinha de atum... hehehe) O casal de holandeses acampou mais acima.
Mas durante a noite.... Cacete... Acordei com a barraca me esmagando literalmente. A barraca praticamente "desmontou"e estava completamente deitada sobre mim. Corri para tentar colocala em pe novamente e resolvi saire para colocar pedras em volta, em cima dos speks. Passei algumas horas em luta com a barraca, vento, cagaco de perder a barraca... O vento era tao forte que eu podia ouvir pedras grandes rolando da encosta proxima e por vezes eu me pegava esperando um possivel impacto. PQP!!!! E nada da noite passar... O vento descia as encostas fazendo o mesmo barulho de uma turbina de um Boing em reverso ao aterrisar. Nunca havia visto isso. O que mais me incomodava e' que era possivel acompanhar o som do vento iniciando sua descida das montanhas, derrubando grandes blocos de pedra e enfim atingindo minha barraca em cheio. Entao, todo um preparo para receber o impacto era desencadeado ao primeiro sinal de que o vennto iniciava sua descida das montanhas. Passei horas nessa tortura ate que percebi que nao havia muito mais o que fazer. Deixei a barraca deitada em cima de mim e sob o efeito das rajadas, enfiei dois pedacos de papel higienico no ouvido e enfim consegui dormir novamente.
O dia seguinte o tempo nao estava la grandes coisas. Mesmo assim desmontei a barraca, coloquei a mochila nas costas e segui vale acima. (Percebi que havia esquecido tambem a calca impermeavel em casa... caralho...) A trilha estava uma merda, muita lama devido a neve derretida. Um frio da porra. Em menos de 5 minutos eu cai de bunda no chao duas vezes e consegui molhar a bunda e as duas luvas (que tambem nao eram impermeaveis... PQP. Mas o caminho era espetacular!
Com toda a falta de equipamentos que eu havia esquecido em casa comecei a ponderar se deveria mesmo continuar, pois nao sabia o que estava por vir. Eu estava sozinho, sem porra nenhuma adequada e com um mapinha xexelento nas maos que ja estava meio molhado. Uma cacetada de erros e decisoes erradas se somando...
Bom, mas decidi continuar pois sabia pelo menos como voltar (isso se o tempo colaborasse)
Fui subindo em direcao aos dentes. Encontrei com o casal de holandeses ao cruzar o passo australia. Falei com eles que seguiria na frente e acamparia bem abaixo da Laguna escondida, no vale, pois havia passado maus momentos com o vento da noite anterior. Muito vento no Passo Australia! Virando para o lado "antartico" da ilha a situacao fica ainda mais complicada sem a protecao da cadeia de montanhas dos Dentes Navarinos. O clima e' nitidamente mais violento e a temperatura despenca!
Segui o caminho sozinho. Descendo o outro lado do macico. Os ventos aumentaram e comecou a nevar. Minha calca e luvas molhada nao estavam la me ajudando muito e tinha que parar diversas vezes para esquentar as maos. Dai eu ja estava comecando a achar que havia feito a escolha errada ao continuar a caminhada... mas eu ja estava ali mesmo...
Passei por lugares lindos, lagos, represas de castores, montanhas, tudo deserto. Sem ninguem. O clima variava de sol 'a neve me surrando na horizontal. Diversas vezes tive que parar atras de pedras para esperar o tempo se acalmar (e eu tambem tinha que me acalmar hehehe). O vento novamente vinha com o mesmo som das turbinas em reverso. Mas dessas vez eu estava acordado e sem aprotecao da barraca. Simplesmente impressionante poder acompanhar o vento varrendo a agua dos lagos para fora (o ruim era o banho forcado). Por varias vezes fui derrubado e aprendi que a melhor maneira de enfrentar essas rajadas era ou escondido atras de uma pedra ou entao posicionado de frente, de cara para o vento, pois assim a mochila nao me fazia girar, me atirando no chao.
Apesar do clima pouco amistoso o lugar e' incrivel. Nao estava sendo facil tambem a navegacao. Me perdia frequentemente. A neve escondia a trilha e os marcos e o vento nao me deixava enxergar direito. Ah! E o babaca aqui nao podia tirar o mapa da mochila para nao molha-lo. Pois e' vivendo (e quase morrendo) e aprendendo. Da proxima vez, levar um mapa impermeavel, verificar o material a se levar, luvas adequadas, nao esquecer nada....
Passei pela laguna escondida e segui em direcao ao vale mais abaixo a fim de procuirar um lugar mais abrigado para colocar minha barraca.
Procuro daqui, procuro de la, que tal ali, mas aqui venta muito... Demorei tanto que comecou a nevar novamente no final do dia. Montei a barraca as pressas e me enfiei no saco de dormir. Acendi um insenso do lado de fora para dar um clima. e resolvi tentar cozinhar algo quente. Dai comeca outra trapalhada" Peguei a benzina e coloquei na latinha de atum vazia. Fui para dentro da barraca para tentar achar isqueiro. Achi e tentei acender a benzina e NADA. Porra, deve ter sido a neve... Vou trocar a benzina. Coloquei nova benzina e tratei de acender logo. Nao acendeu. Puta que Pariu!!!!! Desisti e fui comer coisas geladas e cruas dentro da barraca. Acendi 3 velas dentro de uma panela para ajudar a esquentar a barraca e fiquei pensando no que aconteceu com a benzina. A conclusao me veio a cabeca quando comia a segunda faztia do salame duro e gelado: O que pega fogo nao e' a benzina e sim o vapor da benzina. E com uma temperatura tao baixa a benzina nao estava evaporando logo, nao poderia haver fogo. Gostaria de ter um termometro para verificar a temperatura naquela noite. Comi o que foi possivel, curti o calor das velas mais um pouco e quando o insenso terminou de queimar, apageui as velas e ibernei ate a manha seguinte.
A ibernacao nao foi assim tao ibernante pois acordei diversas vezes durante a noite devido ao frio. Mas a noite foi sem duvida, muito melhor do que a anterior.
Na manha seguinte acordei com um dia lindo e na esperanca de rever os amigos holandeses. Tomei meu cafe, esperei mais um pouco para ver se via o casal mas deisiti e resolvi partir.
Esse dia foi otimo, num clima muito melhor e com uma noite de sono "muito mais bem dormida".
Muitas represas de castores , lagos, rios, e montanhas. Nao vi nenhum castor, mas pudi ouvi-los a noite, batendo a calda na agua.
Logo de cara ja tive que enfrentar mais um passo dos grandes e muito bonito, O chao estava com a neve da noite anterior e o clima estava sensacional apesar de um frio da porra. Muitas subidas e neve. Apesar do sol a temperatura era muito baixa.
Subindo esse primeiro passo vi algo estranho a alguns metros da trilha. Era uma caixinha laranja com 3 botoes. Um aparelho que envia sinal de pedido de ajuda. Aahahahah beleza, agora morrer eu nao morro mais! ahahahahhaa Guardei a caixinha laranja com cuidado na mochila para nao acionar desavisadamente a porra do resgate. ehhehe E sabia que mais a frente eu encontraria o dono ou quem sabe a dona...
Abaixo estao algumas fotos da subida, do passo e da vista do outro lado.
Continua na proxima postagem...
o vento que vc menciona no primeiro acampamento é o vento catábico, típico dessa região. Chega a virar navios e inviabilizar construções. veja no google o tema VENTO CATÁBICO ou williwaws
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